Entrevista
13Fev
À conversa com Joana Silva // Just Natural Please
Joana é mestre em Ciências Farmacêuticas e chegou a trabalhar nos Estados Unidos como investigadora. Em 2013 tornou-se vegana e hoje sente-se livre e feliz. Seguiu a sua paixão e faz algo em que acredita. O Clube Fitness esteve à conversa com Just Natural Please.
Hoje, profissionalmente, Joana dedica-se ao pequeno negócio que criou, a Just Granola Shop. No blog Just Natural Please podes encontrar receitas 100 % vegetais, feitas com ingredientes naturais integrais não processados, maioritariamente sem açúcar, sem glúten e sem soja.
À conversa com Just Natural Please
Todas as histórias têm um princípio… Como foi a tua infância? Gostavas de comer em criança? Sabemos que os teus pais tinham um restaurante, por isso, devia ser difícil resistir a tentações.
A minha infância foi muito feliz, recheada de brincadeiras e aventuras na rua, desde que saíamos da escola até escurecer! Mas mesmo sendo uma criança ativa, era gordinha...
Comecei a ganhar peso quando os meus pais adquiriram o restaurante, tinha eu 8 anos, o resultado de muitas batatas fritas, pão com manteiga, mousse de chocolate e um apetite voraz.
Durante a adolescência praticaste desporto e/ou tinhas cuidados com a tua alimentação?
Para além do desporto na escola (que era e continua a ser pouquíssimo a meu ver) e um ano de natação, não pratiquei mais desporto. Os meus pais são de uma geração que em que ainda não se via o desporto como algo essencial e então nunca me incentivaram muito a praticar qualquer modalidade pois não sabiam que era importante.
Por volta dos 15-16 anos comecei a preocupar-me mais com a minha aparência (fruto da idade) e então comecei a ter mais “cuidado” com a alimentação. Mas fiz muitos disparates nessa altura, dietas loucas e muito restritivas…
Curiosamente, tens formação em farmacêutica, quando hoje defendes “just natural”… Foi por isso que decidiste não ser simplesmente farmacêutica e optaste pela investigação na área?
Eu desde pequena dizia que “queria ser cientista e descobrir a cura para todas as doenças”. E então todo o meu percurso académico foi em busca desse meu sonho de criança.
Tirei o mestrado integrado em ciências farmacêuticas de fiz doutoramento em tecnologia farmacêutica, onde fiz investigação em nanotecnologia e cancro. Mas a alimentação saudável há muito que me interessava também. Ter sido uma criança e adolescente com excesso de peso marcou-me nesse sentido. E depois veio o veganismo, que mudou de tal forma a minha vida e a minha maneira de pensar que fui perdendo um pouco o interesse pela área de farmácia e a alimentação saudável e natural foi se tornando cada vez mais fascinante para mim.
Entretanto, a vida levou-te para o outro lado do oceano, onde trabalhaste num respeitado Laboratório em Austin, Texas, EUA. Mas acabaste por não ficar muito tempo… Porquê?
Sim, depois do meu doutoramento arrisquei continuar com a investigação como pós-doutorada em engenharia biomédica num bom laboratório na área. Mas com o tempo comecei a aperceber-me que já não sentia a curiosidade científica que sentia antes. O trabalho nessa área deixou de me apaixonar e então percebi que era altura de mudar de vida.
Hoje dedicas a tua vida a quê?
Hoje, profissionalmente, dedico-me ao pequeno negócio que criei, a
Just Granola Shop, e também ao meu blog, o
Just Natural Please.
Sabemos que em agosto de 2013 decidiste tornar-te vegan. Porquê?
A minha entrada no veganismo foi repentina, de um dia para o outro. Mas antes disso houve todo um processo de busca por uma alimentação mais saudável. Eu não me sentia bem fisicamente e emocionalmente. Sofria de enxaquecas frequentes, hipertensão, colesterol elevado, mudanças de humor súbitas, ansiedade, mãos trémulas, cólicas, diarreias frequentes…Foi aí que surgiu a suspeita de intolerância ao glúten e então decidi retirar os alimentos com glúten da minha alimentação. Nessa altura comecei a prestar atenção aos rótulos de tudo o que comia, o que foi uma grande revelação pois apercebi-me das coisas indesejáveis que são adicionadas aos alimentos, mesmo aqueles que temos como saudáveis. Comecei então a interessar-me por alimentação saudável e decidi cortar também nos lacticínios.
Entretanto, numa pesquisa na internet em busca de receitas saudáveis cruzei-me com a palavra “vegan” (já a tinha ouvido mas não sabia bem o que era) e achei que fazia todo o sentido, pela saúde, pelo ambiente, pelos animais, por todos nós…E então tornei-me vegan!
Quais são, para ti, os grandes benefícios do veganismo?
A meu ver, o veganismo tem vantagens sobretudo a quatro níveis:
na nossa saúde, pois está comprovado cientificamente que esta é a forma mais saudável de nos alimentarmos; no ambiente, pois esta é a forma mais sustentável e mais ecológica de viver; no respeito pelos animais, pois todos sentimos dor, e no respeito por todos os outros seres humanos, pois ao pouparmos os recursos naturais estamos a proteger o futuro dos nossos filhos e netos.
Devo referir que o veganismo não diz respeito apenas à forma como nos alimentamos mas é sim uma filosofia de vida em que se procura viver em harmonia com a natureza e minimizar o sofrimento em todas as espécies sencientes que possa advir da nossa existência e sobrevivência. Obviamente, uma grande “fatia” das ações que estão compreendidas no veganismo é a forma como nos alimentamos.
Para além de vegan, também tens uma alimentação “glúten free”. Porquê?
Atualmente não faço uma alimentação totalmente sem glúten. Evito e passo muitos dias em que não ingiro nada com glúten porque sinto-me melhor assim. Mas ocasionalmente lá como qualquer coisa com glúten e, se não abusar, tudo ok. Eu nunca fiz o diagnóstico para saber se sofro de alguma intolerância ao glúten mas acredito que tenha alguma sensibilidade e então evito.
Mas não ficaste por aqui… Também quiseste ser crudívora, certo? O que te chamou a atenção neste tipo de alimentação?
O que me chamou mais à atenção foi o argumento de que deverá ter sido esta a forma primordial de nos alimentarmos durante milhares de anos da nossa evolução. O Homem que vivia em plena harmonia com a natureza teria acesso a uma abundância de frutas e vegetais dos quais de alimentaria e por isso não teria necessidade de caçar nem de fazer fogueiras para cozinhar alimentos. Acredito que talvez cozinhássemos os alimentos de forma ocasional mas não como a principal forma de nos alimentarmos.
Além disso, a fruta e os vegetais crus são os alimentos com maiores densidades nutricionais, sobretudo de micronutrientes, que são fundamentais para a manutenção do nosso equilíbrio.
Quando decidiste criar o blogue “Just Natural Please”?
O Just Natural Please nasceu pela minha grande vontade de partilhar as minhas aventuras pelo mundo da alimentação vegana e natural. Ao sentir a grande melhoria que a alimentação vegana causou na minha qualidade de vida, não só a nível físico mas também emocional, tinha muita vontade de partilhar a minha experiência e de ajudar outras pessoas a melhorar as suas vidas também.
A escolha do nome não deve ter sido difícil, vendo bem as tuas escolhas a nível de alimentação… Mesmo assim, porquê este nome?
Quando estava a pensar num nome para o blogue lembrei-me de uma frase que dizia frequentemente quando comia fora de casa, “ao natural, por favor”, quando pedia uma salada, por exemplo. E então ficou, mas em inglês porque queria escrever o blogue nas duas línguas.
O que procuras partilhar com as pessoas através do blogue?
No blogue partilho essencialmente receitas criadas por mim que são 100 % vegetais, feitas com ingredientes naturais integrais não processados, maioritariamente sem açúcar, sem glúten e sem soja. Para além das receitas partilho também alguma informação sobre nutrição, saúde, exercício físico e outras dicas para uma vida mais natural. E agora mais recentemente partilhei também a minha gravidez e minhas aventuras enquanto recém mamã.
Qual é o teu lema de vida?
O meu lema de vida é procurar respeitar a nossa essência enquanto humanos, que é algo bastante difícil nos dias de hoje. Com o desenvolvimento tecnológico, a vida em sociedade e os hábitos culturais, aquela que é a nossa verdadeira essência – aquilo que verdadeiramente somos enquanto espécie, as nossas verdadeiras necessidades – são muitas vezes difíceis de identificar. E ao não serem respeitadas entramos facilmente num desequilíbrio que nos retira qualidade de vida. Quando tenho dúvidas relativamente a escolhas ou decisões que tenho de tomar questiono-me muitas vezes “o que é que eu faria se vivesse há milhares de ano atrás relativamente a isto?”.