Entrevista
10Jul
À Conversa com Nuno Martins
Nuno tem 26 anos e é Mestre em Exercício e Saúde na Faculdade de Motricidade Humana. Apaixonado pelo desporto desde criança, já praticou futebol, Taekwondo e ginástica. Atualmente, dedica-se à sua investigação de controlo de peso e à sua página Nuno Martins Online Coaching. O Clube Fitness esteve à conversa com Nuno Martins.
À Conversa com Nuno Martins
1. Olá Nuno! Fala-nos um pouco sobre ti. Quem é o Nuno Martins e como surgiu o desporto na tua vida?
Olá e desde já muito obrigado pelo convite! O Nuno Martins é um jovem que quase se tornou engenheiro informático porque gostava de jogar no computador. Felizmente, graças à sensatez e preocupação dos meus pais, decidi seguir por uma área que já me acompanha desde sempre – o exercício físico. Embora seja ativo desde que me lembro, comecei por jogar futebol dos 5 aos 11 anos. Aos 9, decidi começar uma arte marcial, o Taekwondo! Por fim, iniciei-me na ginástica aos 15 anos (abandonando o Taekwondo) tendo-me dedicado a esta modalidade até junho de 2017, completando cerca de 10 anos de prática.
2. Como foi o teu percurso profissional?
O meu percurso profissional foi relativamente simples. Depois de terminar a minha Licenciatura em Ciências do Desporto na Faculdade de Motricidade Humana, permaneci no meu local de estágio por mais meio ano, completando sensivelmente 1 ano de trabalho nesse ginásio. Embora o meu desejo fosse continuar a trabalhar, já que os primeiros euros a entrar na conta se tornam viciantes ao nos dar uma sensação de independência, decidi privilegiar a minha educação, realizando um Mestrado em Exercício e Saúde na mesma faculdade. Mais uma vez, o impacto dos meus pais foram chaves nesta decisão.
No primeiro ano de mestrado trabalhei em simultâneo no Sporting Clube de Portugal enquanto preparador físico da equipa de trampolins, e treinador auxiliar da equipa de juniores de TeamGym. Durante o Mestrado, tive a oportunidade de escolher entre estágio e dissertação. Atirei-me de cabeça para a segunda opção visto que seria uma oportunidade única de criar ciência, acabando por descobrir uma nova paixão – a investigação. Foi aí que decidi realizar um doutoramento numa área que me apaixonasse, o controlo de peso, tendo o privilégio de estar atualmente a fazer investigação na Universidade de Leeds.
3. És autor da página “Nuno Martins Online Coaching”. Como é que o Coaching entrou na tua vida?
Na verdade, foi algo inesperado. Ao ajudar algumas pessoas que me eram próximas e criar conteúdo gratuito no Facebook, começaram-me a requisitar acompanhamentos à distância. Assim, o “online coaching”, ou acompanhamento online, surgiu como forma de manter as “mãos na massa” durante o Mestrado, sem ter de estar fisicamente num local a uma hora exata, dando-me a flexibilidade que pretendia para continuar os meus estudos.
4. Podes-nos explicar o que faz exatamente um Coach? E quais as vantagens de ser acompanhado por um?
Atualmente, pode-se dizer que ser “coach” é algo que está em crescimento, sendo utilizado não só no mundo do fitness e desporto, como também nas áreas de desenvolvimento pessoal. Na sua tradução literal, “coach” é um professor / treinador / instrutor. Na minha visão, o “coach” deve não só indicar a pessoa o que deve fazer (de forma individualizada), mas também explicar todo o processo, dando-lhe as ferramentas necessárias para que se torne autónoma. O coach é também um amigo, fazendo por vezes um papel de psicólogo já que muito do progresso físico depende do bem-estar emocional (com bom senso, já que problemas emocionais específicos devem sempre ser resolvidos com os profissionais respetivos). Assim, as vantagens de ser acompanhado por um bom profissional são não só uma prescrição individualizada, como também uma aquisição de ferramentas que te vão tornar a pessoa mais autónoma. Adicionalmente, este investimento irá permitir que a pessoa não perca tempo com estratégias cujos resultados não serão os mais desejados (suplementos e planos de treino ineficazes, por exemplo). Por fim, um acompanhamento online ao nível do treino pode não ser benéfico para quem nunca frequentou um ginásio, já que é difícil controlar a componente técnica à distância. Embora hoje em dia tenhamos ferramentas que nos permitam visualizar o que o cliente está a fazer, nada irá superar a presença local de um profissional experiente.
5. Sabemos que os planos de treino que fazes são adaptados a cada indivíduo. Quais os fatores que tens em conta quando os fazes?
Embora os princípios do treino sejam maioritariamente universais, os planos devem sempre ser individualizados. Alguns dos pontos que tenho sempre em consideração são a idade, experiência de treino, preferências, disponibilidade, anatomia, objetivos e historial clínico. Caso a pessoa tenha uma lesão, ou alguma patologia que possa ser afetada pelo exercício, é fundamental que exista um trabalho de equipa com os profissionais necessários (fisioterapeuta, médico, etc).
6. E quando é que entendes que deve haver uma alteração ou mudança radical no plano de treino?
Na minha opinião, a maioria das pessoas deve alterar o treino quando não se sente motivado para treinar (pode prejudicar a adesão ao plano – o fator mais importante para atingir os resultados pretendidos), ou quando já não se consegue progredir mais. Basicamente, a ideia de que devemos alterar o plano todas as semanas para “confundir os músculos” não passa de uma estratégia de marketing. Contudo, em caso de pessoas com objetivos mais avançados ou atletas, deve existir uma periodização e monitorização mais cuidada e meticulosa para maximizar os resultados.
7. Enquanto treinador pessoal, sabes que nem sempre há motivação para treinar. Que conselhos dás aos teus clientes?
O meu primeiro conselho é que esqueçam a palavra “motivação”. Sem dúvida que é uma ferramenta que nos pode ajudar, especialmente a curto-prazo, mas raramente nos permite levar um processo até ao fim, com exceção dos casos onde esta motivação é “intrínseca”, que raramente é o caso. A motivação é algo tão inconstante de dia para dia, que não deve ser algo que devamos depender para nos mover rumo ao nosso objetivo. Vamos pensar: Qual é a motivação que o nosso corpo tem para comer bem e ser ativo, quando o nosso ambiente nos empurra para consumir em excesso e ser sedentários? A minha sugestão é que as pessoas troquem a palavra “motivação” por “rotina”, pois serão estas que nos permitem ser consistentes a longo prazo. É preciso motivação para lavar os dentes? Provavelmente não, visto que é uma rotina enraizada nas nossas vidas.
8. Sabemos que há pouco tempo, passaste por uma mudança física. Perdeste 10kg em 90 dias. Como conseguiste e que cuidados adotaste?
Como mencionei anteriormente, a criação de rotinas foi chave. Tinha um plano! Sabe-se que para perder peso, temos de criar um défice energético, ou seja, temos de consumir menos calorias do que gastamos diariamente para que o corpo utilize as suas reservas energéticas, especialmente a massa gorda. Posto isto, tendo em conta que controlei o meu consumo de calorias durante no passado, tinha uma boa perceção de quantas calorias estava a consumir diariamente, ajustando este valor de acordo com os resultados que tinha ao nível do peso, perímetros e fotografias. Se sentia que estava a estagnar, apenas fazia uma redução de porções, substituição de alimentos (arroz/massa/batata por vegetais, por exemplo) ou uma preocupação em aumentar a minha atividade física diária.
9. A par com o exercício físico, a alimentação tem um papel essencial para se atingir resultados. Que cuidados tens com a alimentação? E tens alimentos proibidos?
No geral, tento ter sempre estes 5 cuidados com a minha alimentação:
- Garanto que consumo a energia (calorias) que preciso.
- Garanto que tenho um consumo de proteína adequado.
- Garanto que 80-90% da minha alimentação é “saudável” (rica nutricionalmente).
- Garanto bons níveis de hidratação um adequado consumo de fibra.
- Sou flexível, não tendo alimentos proibidos, nem exigindo ser perfeito ao ponto de criar um stress desnecessário na minha vida .
10. És a favor do conceito de cheat meal. Quais as vantagens que encontras em seguir este conceito?
Não sou a favor do conceito de cheat meal por vários motivos. Em primeiro lugar, o próprio nome cria uma ligação negativa com a alimentação, como se fosse lixo, ou uma asneira. Numa época onde a prevalência de distúrbios alimentares bate recordes, é preciso ter cuidado com a linguagem utilizada e na relação que se cria desde cedo com a nutrição. Em segundo lugar, esta refeição é muitas vezes utilizada como forma de acelerar o metabolismo, mas, infelizmente, isto não acontece. Embora possa existir uma ligeira alteração hormonal a curto prazo, o seu impacto no nosso metabolismo é insignificativo. A “cheat meal” pode ainda criar momentos de ansiedade, eventualmente tornando-se num episódio de compulsão alimentar “planeada”. A pessoa passa a semana ansiosa por aquela refeição acabando por comer não só em excesso, mas também com uma qualidade alimentar que deixa muito a desejar. Por fim, um consumo excessivo de calorias pode prejudicar parte do progresso que se fez durante a semana, sendo necessária alguma cautela quanto a estas refeições.Por fim, sou a favor que a pessoa tenha refeições ou dias livres, com um consumo calórico e de hidratos de carbono mais elevado do que o normal. Isto irá permitir melhor rendimento nos treinos seguintes (repondo as reservas de glicogénio muscular), alívio emocional e talvez algum impacto ao nível das adaptações que acontecem em resposta à perda de peso, especialmente se forem utilizados 2 ou mais dias fora desta restrição. Para pessoas que estejam a fazer uma elevada retenção de líquidos, este consumo mais elevado de calorias e hidratos de carbono pode permitir uma redução dos níveis de cortisol (hormona do stress), permitindo uma perda de peso que se encontrava mascarada por este stress.