Entrevista 27Fev

À conversa com a Nutricionista Filipa Vicente

Filipa tem 33 anos e começou a estudar nutrição em 1998 e rapidamente apaixonou-se pela área. O interesse pela nutrição no desporto levou-a a trabalhar com atletas de corrida, ciclismo e alguns de culturismo. O Clube Fitness esteve à conversa com a Nutricionista Filipa Vicente.
 
O seu principal objetivo enquanto nutricionista é dar as ferramentas e o conhecimento para que as pessoas aprendam a comer para viver e render! E não a viver para comer! 
 

À conversa com a Nutricionista Filipa Vicente

Quando surgiu a curiosidade e interesse pelo nutricionismo?
O interesse pela nutrição surgiu quando comecei a treinar no ginásio com 15 anos, com muitas das revistas de culturismo e fitness que encontrava na altura. Fascinavam-me os modelos de alimentação que os culturistas referiam para definição máxima. Isso levou-me a estudar mais, a Internet ainda era analógica e eu passava as 2 horas de cada Happy hour a estudar os poucos sites americanos que falavam disso.  

Porque decidiste ser nutricionista? O que procuras atingir com a tua profissão?
Sou defensora de que somos muito o que comemos, os alimentos que escolhemos, os nossos hábitos à mesa, etc. dizem muito da nossa personalidade e forma de estar. Além disso, acredito que a alimentação é o melhor veículo para otimizar o rendimento físico e intelectual. Isso levou-me a acreditar que era a área que queria para a minha vida.

É sempre fácil “convenceres” os teus pacientes da importância de um estilo de vida saudável?
A grande verdade é que se eu “tiver de convencer”, não vai resultar. Sou defensora de que a melhor forma de alguém melhorar realmente a sua alimentação passa por educar-se e querer mudar hábitos, escolhas e comportamentos. Se não for importante para a pessoa e se não sentir que pode aprender algo, não funciona.



Qual foi o pior caso com o qual já lidaste nas tuas consultas de nutrição?
Acredito que são precisas duas pessoas para dançar o tango pelo que não acho que tenha um caso de menos sucesso por culpa da pessoa mas também terei falhado em algo. O que me entristece ainda é que as pessoas procurem um nutricionista com a expectativa de terem resultados rápidos e quando não acontece desistem. Infelizmente são as pessoas que sofrem as consequências.  

Num post recente no Facebook escreveste que um dos teus objetivos é ajudar as pessoas a ter uma alimentação adequada aos seus objetivos, a aprender a gostar disso e a saber desfrutar da comida. Como é possível alcançar isso?
Acima de tudo acredito na regra da moderação e é um dos truques que ensino à pessoa, moderação nas porções e moderação nas restrições. A pessoa deve saber moderar as quantidades, aprender a fazer boas escolhas alimentares e ganhar controlo nas tentações. Deve evitar ter uma relação patológica com a comida, receando sair do plano ou comer algo diferente mas sim saber que podem comer coisas que gostam na frequência e quantidade adequada sem medo. A vida não é feita de caixas de comida fria com frango, arroz e batata doce.

Como nutricionista, deves ter muitos cuidados com a alimentação. Quais são os cuidados essenciais para uma alimentação saudável?
O conhecimento dos alimentos permite-me sobretudo ter consciência sobre as boas escolhas e o que realmente vale a pena ou não introduzir na alimentação. Não sou uma pessoa fundamentalista em nenhum aspeto e gosto de apenas recomendar o que eu consigo fazer.



Consideras importante as pessoas fazerem uma cheat meal todas as semanas? Porquê?
Não sou a favor de cheat meals porque acho que a pessoa deve enquadrar os alimentos de que gosta em refeições quando surge a oportunidade e não em ocasiões programadas. Considero que a pessoa deve ganhar conhecimento e consciência para saber ir almoçar um dia com colegas de trabalho, lanchar com um amigo e jantar com a família ao fim de semana sem parecer que está sempre a privar-se. Deve saber desfrutar das ocasiões em que tem comida diferente e companhia. Uma cheat meal parece pecado e só vai acontecer porque é “propositada”, não tem piada.

Qual é a tua cheat meal de eleição?
Não faço cheat meals mas os alimentos que ingiro com menos referência e que considero refeições distintas do padrão normal são pizza e gelado.

Devemos fazer várias refeições ao dia. Qual é a verdadeira importância de comer de 2 em 2 horas?
O fracionamento alimentar deve ser personalizado ao padrão do indivíduo e até à sua ingestão energética. Dizer a uma pessoa que tem de comer cada 2 horas e a pessoa não pode é o mesmo que dizer-lhe que não vai resultar. É mais interessante saber que pode comer quando consegue desde que tenha consciência de que pode ter mais fome. Aqui surge a importância de ter um plano e de saber que tem uma refeição pronta e disponível para quando pode comer.


 
Como é possível comer saudável fora de casa? Por exemplo, quando vamos a um restaurante?
Sim, perfeitamente possível, sobretudo quando falamos da culinária portuguesa. Em primeiro lugar, aqui entra precisamente o fracionamento alimentar, se não chegarmos ao restaurante com apetite extra vamos ter mais critério a escolher.
Devemos ter como cuidados: escolher um prato que inclua hortaliça seja em salada ou cozinhadas , são importantes pela densidade nutricional e porque vão ajudar a controlar melhor a porção. E a porção é precisamente o que devemos analisar, se desconfiamos que uma dose é muito podemos pensar em dividir ou pedir algo mais ajustado.
Podemos até desfrutar das entradas desde que não comecemos a comer como se a vida dependesse disso. O problema muitas vezes é quando se entra num restaurante e pensamos “ah hoje vou-me estragar e amanhã recomeço”.

A Filipa é colaboradora no projeto Correr por Prazer. Porque decidiu fazer parte deste projeto?
O projeto Correr por Prazer é um dos que tenho com mais carinho porque estava a começar a minha carreira quando o Vítor Dias, criador da página me contactou. Acredito na mensagem que tentamos passar, sempre pela positiva, e no potencial do conhecimento que o site traz. O objetivo é encorajar uma prática saudável e que promova saúde, tem tudo a ver com os meus lemas em nutrição.
 
Também corre e gosta de correr? Pratica mais alguma modalidade?
O meu passado é a musculação pura e dura, comecei a correr pouco depois de entrar no Correr por Prazer e adoro. Também fui um pouco obrigada a manter a forma na corrida por ter de acompanhar alguns atletas em provas. Hoje em dia estou a tentar voltar depois de uma lesão nos joelhos, complementando corrida e treino funcional específico.



Falando em exercício físico… Quanto é demais? Ou seja, devemos treinar intensamente todos os dias? Qual a medida certa de atividade física?
Acho que ninguém deve treinar diariamente a menos que seja um profissional, ou seja, a sua vida profissional seja competir. São poucos os que se inserem nesta categoria, a grande generalidade dos atletas são amadores, de lazer, por prazer e mesmo competindo em provas têm trabalho, família e outras prioridades. Acho pouco interessante uma prática excessiva e quando é necessário melhorar a performance muitas vezes não fazem só um desporto pelo que é vital adequar bem as cargas de treino.
Devemos ser ativos diariamente em todos os gestos do dia a dia mas sou defensora de 2 a 3 sessões de exercício programado por semana.

Qual é a importância dos suplementos para quem pratica exercício físico?
Acredito que a suplementação pode ajudar a melhorar o rendimento e a assegurar que o indivíduo não tem carências nutricionais que prejudiquem a sua saúde e bem-estar. No entanto, os suplementos não são apenas uma realidade do exercício. A recuperação e a diminuição da perceção de esforço são duas áreas em que uma suplementação pode ter um papel chave. 

Qual é o primeiro passo para alguém adotar um estilo de vida saudável?
O primeiro passo é começar, dar o primeiro passo e querer mesmo porque assim pode começar já.

• Reduzir a porção de um prato em que vai sempre além do normal.
• Começar a incluir sempre fruta fresca, saladas e hortaliças cozinhadas no dia a dia.
• Diminuir todos os comportamentos sedentários (ficar muito tempo sentado, usar o elevador para 1 ou 2  andares, etc.).
• Retirar os excessos ou reduzir a sua frequência, comece a anotar quando “faz asneira” e reduza a frequência.

Tudo isto conta, o todo é maior que a soma das partes. Por pouco que faça, é melhor do que nem fazer nada.