Saúde 21Fev

O Mito da gordura e das doenças do coração


“Para cada problema complicado, existe uma solução simples, direta, compreensível e ERRADA.” HL Mencken.
 
Quando eu era criança, acreditava que as coisas tinham que ter um sentido, que os responsáveis não deixariam que coisas erradas fossem ditas, que erros passassem como verdade e que os interesses não influenciariam as decisões dos grandes.
 
Ah! A inocência!
 
Se de erros foi feita a ciência, com descobertas por engano, “verdades universais” que levaram pessoas à fogueira (o sol gira em torno da Terra e quem se atrever a dizer o contrário...), é preciso compreender o erro como parte do processo e admitir a constante possibilidade de ver as teorias serem questionadas.

Agora a questão dos interesses fazem-me sentir como se eu estivesse num filme de ação, com super vilões e nenhum super-herói. E não admitir um erro por interesses financeiros, principalmente um que influencia a saúde de milhões de pessoas, parece-me exagerado. Um caso forte é o do mito dos gorduras e das doenças do coração.

Bem, antes de desenvolver mais este assunto, sugiro que leiam o meu ultimo artigo: Coisas que devíamos saber sobre a gordura. Lá tenho a base dos argumentos que aqui vou expôr.
 

O início

Tudo começou com Ancel Keys e a sua falsa descoberta de que a gordura era a causadora das doenças cardíacas. Sem brincadeiras: a não ser o Estudo das Sete Nações , não existem estudos que sustentem a teoria da gordura causar problemas do coração. (É verdade, procurem).
Bem, nos anos 50 e com a morte por doença cardíaca do presidente norte americano … surgiu um verdadeiro medo sobre o que poderia causar essas doenças. Muitos tentavam descobrir a resposta para poder acalmar a população. Um estudo em particular sobressaiu se, o estudo das 7 nações, de Ancel Keys.
De facto, Keys é o pai da teoria lipídica, aquela que associa o consumo de gorduras às doenças cardíacas. Infelizmente seu estudo foi uma farsa, alterado para corroborar as suas conclusões. Reparem que o estudo que rege a prescrição alimentar do mundo moderno foi uma FARSA. Não só ele ignorou os países que retiravam credibilidade às suas conclusões, como ignorou o facto de que aos mesmos resultados estava associado o consumo de açúcar, que considerou irrelevante. Sobre o assunto, afirmou:

The fact that the incidence rate of coronary heart disease was significantly correlated with with the average percentage of calories from sucrose in the diet is explained by the intercorrelation of sucrose with saturated fat.
- Seven nation study, pg 262


Keys escolheu apenas os países que representavam a sua ideia, escondendo os números obtidos em outros países que, quando analisados, não demonstram qualquer correlação estatística entre GORDURA NA DIETA E DOENÇAS CARDÍACAS. Esta informação não é teoria sem fundamento nem é nova. Já na altura (década de 70) , George Mann, um pesquisador cardiovascular afirmou: "uma geração de cidadãos americanos foi enganada pela maior fraude científica da nossa era: a noção de que a gordura animal causa doença cardíaca".

A partir daqui surgiu não só o medo da gordura como uma fusão da ideia de gordura e colesterol, o que é muito estranho. Qual é a ligação entre gorduras e colesterol? É verdade que alimentos com colesterol tendem a ter gorduras, especificamente saturada, porque ambos são normalmente de origem animal. Mas a relação acaba aqui. Por alguma razão os dois conceitos ficaram misturados e já não se sabe quando falamos de gorduras ou de colesterol. A confusão fica clara em afirmações como esta de uma organização governamental norte americana:

O colesterol na dieta vem de fontes animais como as gemas de ovos, carne (especialmente órgãos como o fígado), aves, peixes e leite gordo. Muitos desses alimentos também são ricos em gorduras saturadas. Escolher alimentos com menos colesterol e gorduras saturadas ajuda a diminuir o colesterol sanguíneo.

A partir desse medo do colesterol foram criadas drogas para baixar o mesmo. As mais conhecidas são as Estatinas, que têm efeitos secundários conhecidos e admitidos, entre eles a má formação de bebés em pacientes grávidas e a morte. Pesquisar o trabalho de Malcolm Kendrick ajuda a perceber os contornos dessa situação. Mas há quem fale sobre isso em território nacional. O jornal O Público publicou em julho de 2015 um artigo do Dr. Manuel Pinto Coelho com informação que vai contra aquela passada pela maioria dos nutricionistas e médicos, seguindo as informações que a ciência tem vindo a confirmar.

Pensar de outra forma

Hoje já se sabe que 75% das pessoas que têm ataques cardíacos têm níveis normais de colesterol. A placa ateromatosa que diminui o diâmetro das artérias é formada por células do tecido da própria artéria, cálcio, ferro e colesterol, sendo este a menor parte. Pensa-se que ele servirá como curativo para reparar o desgaste feito pela inflamação, essa sim a causadora da arteriosclerose.

Pense desta maneira:
  • Há vários incêndios pela cidade;
  • Quando vamos aos locais do incêndio, há sempre bombeiros por perto;
  • Logo, os bombeiros são os causadores do incêndio!
Esta lógica da batata é simples, fácil de entender e errada. Assim como a do colesterol. E se o colesterol nos protege, baixar os seus níveis não parece uma boa ideia, seria como ter uma cidade sem bombeiros.
 

Dados e a falta deles

Em 1988, o Surgeon General’s Office nos Estados Unidos decidiu reunir todas as evidências que ligam a gordura saturada (ou outra qualquer, já agora) às doenças do coração. Depois disso...silêncio. Nada. Onze anos depois o projeto acabou. Numa carta afirmaram que não tinham previsto a magnitude da expertise adicional e recursos necessários. A sério? Parece tão certo que a gordura causa problemas cardíacos e onze anos depois não conseguiram reunir nada?

Um dos responsáveis comentou: “o estudo começou com uma opinião pré-concebida das conclusões mas a ciência por trás dessas opiniões simplesmente não suportava a tese”. O facto é que toda a ciência por trás dessa teoria da gordura-doenças do coração é muito fraca e cheia de falhas. É interessante ler o trabalho de Gary Taubes “The soft science of dietary fat”.
 
Para concluir, apresento alguns dados sobre as diferenças na dieta dos japoneses nos últimos anos. Entre 1958 e 1999 os japoneses diminuíram os hidratos de carbono ingeridos (de 84% para 62% da dieta), aumentando o consumo de proteínas (de 11% para 18%) e gordura (de 5% para 20%). O interessante é que não só a mortalidade diminuiu como a taxa de ataques cardíacos na população também diminuiu drasticamente.
 
Será este outro paradoxo ou é  o paradigma que está errado? 

Alex Gomes Alex Gomes
Alex Gomes é luso-brasileiro e fundador do Blog Fora da Box, que conta agora com uma box de Crosstraining e também um canal do Youtube. Licenciado em Educação Física e Mestre em Ensino da Educação Física pela Faculdade de Desporto da Universidade do Porto , tem ainda uma pós-graduação em Filosofia da Educação pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. É um dos únicos CrossFit Level 3 Trainers em Portugal e dá palestras sobre alimentação Paleo e sem açúcar.
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